domingo, 21 de setembro de 2008

Questões curriculares em discussão

De: Irlan

Questões Curriculares 08/09/2008 - O IV colóquio luso-brasileiro sobre questões curriculares que aconteceu na UFSC na última semana mostrou a tendência para o tema neste início de milênio. A idéia central, segundo o professor Antônio Flávio Barbosa Moreira, é a internacionalização do currículo, ou seja, a adequação à lógica do capital. Já a proposta de descolonização do currículo ficou obscurecida diante da hegemonia da proposta embandeirada pelo Banco Mundial. Apenas o estudante Leopoldo Nogueira, do IELA, e a professora Regina Leite Garcia, da UFF, se manifestaram nesta direção.

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De: Miro

Ola Irlan ola galera do decite, tudo bom?O que significa *descolonizaçao do currriculo"?Só pra dar um ponta pé nesse debate que acho interessante.Um abraçoMiro
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De: Irlan


A idéia é que continuamos submetidos a colonialismos, inclusive internos. No caso aqui trata-se de colonialismo externo mesmo, com a idéia de formulação curricular "universalizada", que supostamente nos colocaria em sintonia com o resto do mundo ocidental. Parte certamente da idéia de neutralidade e autonomia da tecnociência. Por essa lógica, parece que não exietem relações de poder que permeiam todo o processo e as diferenças podem ser achatadas, mesmo porque elas não são trabalhadas explicitamente no curriculo. Tem um texto da Eni Orlandi que coloca a questão em termos de tradução de textos para publicação em lingua inglesa que pode ajudar (em anexo). A descolonização, no meu entendimento, é o que faz a etnomatemática, por exemplo. Pensar uma tecnociência que não seja disfuncional como temos por aqui.Ta dada a partida.Abraços,Irlan

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De: Suzani

Miro, Irlan e pessoas, vamos estudar um pouco isso? Eu também gosto muito do tema. Sei que o Irlan está lendo um texto do Michael Apple que apesar de ser uma obra antiga (Ideologia e Currículo) e maravilhosa, é uma edição nova e com coisas depois do dia 11/09. Não é Irlan?Eu gosto muito dessa parte em que ele coloca a tradição seletiva dos conteúdos como os conflitos vão sendo retirados do currículo...Vejam um trecho vai ser publicado num livro que fiz com outras duas autoras:"Nesse sentido, embora essas questões sejam relacionadas ao conteúdo de ensino, vão além desse conteúdo na medida em que provocam a reflexão sobre a sua pertinência ou não, e alertam, inclusive, para possibilidades de seleção de conteúdos diferenciados dos usuais. Assim, noções como currículo oculto e tradição seletiva dos (conteúdos), como são trabalhadas por Michael Apple evidenciam a necessidade de planejarmos o ensino não nos restringindo ao que de imediato nos parece o óbvio a ser feito. Esse autor adverte para o fato de que os conteúdos escolares usuais foram selecionados entre muitos outros possíveis e, conseqüentemente, podem ser modificados com base em critérios plausíveis de natureza política, filosófica ou pedagógica. Por outro lado, o trabalho de Michael Apple ao confrontar situações de consenso e de conflito, também contribuiu para que pensássemos nessa oposição como um par dialético consenso/conflito. Par dialético no sentido de que um só existe por oposição ao outro, o que nos faz refletir sobre a relevância de, mediarmos o conflito em situações de ensino e, inclusive, procurarmos instaurar em sala de aula situações favoráveis ao debate de idéias."Que acham? Gente, temos que aproximar essas coisas AD e Educação!!! Vejo como há poucas articulações principalmente na área de Educação Científica e Tecnológica...Bem,pra 6af as 15h, temos o texto que o Edson nos trouxe sobre Baktin, Focault e Pecheux, que está no xerox da nossa pasta do Dicite.BeijosSuzani


De: Miro

Ola pessoal, tudo bom?Li (Ufa!!) o texto de aproximação dos três Michelis. Como não ireina reunião de sexta, talvez algumas coisas serão esclarecidas porlá, mas vai aqui a minha contribuição para o debate.Maria do Rosário nos oferece uma oportunidade para que reflitamossobre a "história da costrução conceitual que interliga o discurso,o sujeito e a sociedade." e faz um ensaio sobre as idéias dos três Michelis e nos remete a pensar "como esses autores foram e estãosendo lidos, interpretados e postos em funcionamento em trabalhosatuais no Brasil?".Claro que tudo isso é muito importante, pois trata-se de autores que mexem conosco e nos faz refletir sobre nossas formas de pensar ede agir no mundo. A questão que eu coloco é tentar, a partirdestas teorias, relacioná-las às nossas práticas de sala de aula eao mesmo tempo encontrar algum elo entre essas discussões de"discursos, linguagens, sentido, poder, história, sociedade,tecnologia", e tentar ver de que maneira estes autores nos ajudama discutir a questão da educação. Aí entra a discussão docurriculo que estamos interessados. Será que esses autores nosoferecem sustentação teórica para negar isto que está posto etermos argumentos suficientes para propor um novo modelo deformação das nossas crianças e adolecentes ou devemos ficar apenas(não no sentido de ser menor) discutindo quem tem razão entre ostrês Michelis?Qual o nosso posicionamento enquanto grupo de estudos, onde queremoschegar nas nossas tardes ensolaradas (nem tanto!!!) de sexta-feiras?Um beijo carinhoso a todos e a todasMiro


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De: Edson
Minhas caras e caros dicitianos: Primeiramente, endosso também minhas congratulações à Suzane ... nossareferência dicitiana....Um breve relato da reunião (talvez respondendo em parte as inquietações doMiro...) de ontem, que espero seja complementada pelos presentes ontem,Suzani, Irlan, Narjara, Lucas e Guilherme , além deste jovem mancebo aqui..Não foi possível "dissecar" integralmente o texto, mas a discussão foi muitorica e levou a várias associações...Uma primeira constatação tem há ver com a clareza do texto... contraponto àsreclamações dos textos da Eni...(aliás, a Suzane trouxe um outro texto daautora – Maria do Rosário Gregolin, que também parece sugestivo para nossosaprofundamentos...)Outro aspecto , muito ressaltado pela autora, é a busca de fazer umaaproximação entre esses 3 autores, a partir de uma releitura histórica dasobras de cada um , tentando entender as aproximações e divergências...Esse aspecto é importante, pois é comum , principalmente no caso de Pêcheuxse fazer uma leitura homogêneizante (provocada também pela não tradução enão leitura dos últimos textos de Pêcheux...), como se o próprio Pêcheux nãotivesse revisto alguns de seus conceitos iniciais, inclusive em relação adiscordâncias iniciais em relação a Bakhtin e Foucault. Assim , a autora fazum resgate dos 3 Michéis...Outro aspecto importante , foi ressaltar que os 3 autores buscaram dar (comsemelhanças e divergências) respostas às articulações entre teoriaslingüísticas, teorias do sujeito e teorias da história e sociedade,envolvendo a diferentes interpretações de Marx, Freud e Sausurre (e, no casode Foucault, é bom acrescentar Nietzche...)Também é muito rica a ressignificação do poder na visão focaultiana, que secontrapõe à visão (marxista e althusseriana...) que o relaciona apenas aopoder político macro – institucional.. e o vê de modo dicotômico (os que tême os que estão alijados do poder.etc... Foucault irá trabalhar com aperspectiva dos micro-poderes (microfísica do poder...)que se disseminam portoda a estrutura social , sendo que a resistência também não tem um pontofixo e sim pontos móveis... Nesse sentido, ele entende que existe umarelação íntima entre saber e poder....não distinguindo ciência e ideologia(termo, aliás que ele prefere não usar...). Nesse sentido é muitosignificativo como em algumas de suas obras ele produziu uma história dosdiferentes modos de subjetivação do ser humano na nossa cultura (História dasexualidade, vigiar e punir (que inclui o poder disciplinar dos hospícios,fábricas, presídios... escola...).Essas, entre outras questões que discutimos na reunião, foram relacionadasàs questões curriculares...(o Irlan sugeriu uma importante referência parapensar o currículo: Michel Apple...), a CTS, formação de engenheiros.... , àBiologia como tendo muitas facetas polissêmicas...(lembrei do Seminárioapresentado pelo Welton sobre as diferentes leituras da teoria da evolução,as controvérsias entre Nietzche e Darwin...que tem muito há ver com asnossas discussões.... ).Isso é um pouco do que captei da leitura do texto e da reunião... espero queseja complementado pelos outros participantes...Finalizo, dizendo que devo me afastar provavelmente nessa semana paraacompanhar uma cirurgia do coração a que minha mãe se submeterá... Contocom a força , reza ou torcida de vocês pra que tudo possa correr bem...Abração a todos!Edson


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De:Betania

Estava pesquisando no google sobre Michel Apple e me deparei com a resenha do livro: Moreira, Antônio Flávio; Soares, Magda; Follari, Roberto A. e Garcia, Regina Leite (Org). (2001). Para quem pesquisamos, para quem escrevemos: o impasse dos intelectuais. São Paulo: Cortez (Coleção Questões da Nossa Época).Ele faz uma importante articulação com as questões da linguagem do pesquisador/escritor em suas publicações, a questão apontada por Suzani sobre o objetivo da revista ciência e ensino (da qual Suzani, Henrique e Mariana são editores), linguagem e currículo.Destaco uma parte da resenha elaborada por Ana Lucia C. Fernandes, doutaranda na Universidade de Lisboa no Departmente de Historia e Educaçao Comparada. Esta parte é do artigo de Antônio Flávio Barbosa Moreira que tem como título Para quem e como se escreve no campo do currículo: notas para discussão. "Apropriando-se de citações do poeta mexicano Octavio Paz, o autor parte de uma distinção entre o escritor especializado em um determinado campo do conhecimento e o escritor sem um tema fixo. O primeiro escreve para leitores interessados no seu próprio campo ou em suas questões atinentes, formando com eles uma comunidade. Já o segundo, não possuindo um público previamente determinado, escreve para estabelecer um diálogo, ou seja, para formar futuramente uma comunidade. Transpondo esta questão para o campo da educação, Antônio Flávio, ele próprio um especialista em currículos e profundamente implicado com o trabalho em cursos de formação de professores, constata alguns obstáculos nos diálogos estabelecidos entre os especialistas da sua área e os professores ou futuros professores. Equívocos, falta de compreensão, por que tais problemas ocorrem? Quais as razões para os desencontros entre aquilo que os especialistas escrevem e os leitores que os lêem? Para examinar tais questões, o autor propõe-se “a analisar textos de alguns dos especialistas em currículos que declaram escrever para professores”. O autor recorre ao pensamento sobre currículo produzido nos Estados Unidos, em função de sua significativa influência sobre o Brasil, e detém-se em alguns dos nomes que se destacaram nos três momentos que ele identifica constituírem marcos de ruptura no discurso. Em cada um desses momentos, procura relacionar a concepção de currículo subjacente e a forma como os pesquisadores/autores se dirigem aos professores/leitores. O primeiro momento refere-se ao período que vai dos anos vinte aos anos setenta, no qual o autor identifica a emergência do campo de currículos e a predominância de uma tendência tradicional. Desse período, o autor destaca Ralph Tyler e Hilda Taba. Bastante difundidos no Brasil nas décadas de sessenta e setenta, esses autores ilustram um enfoque em que a pesquisa, fortemente pautada pelo positivismo, pretende descrever o mundo e que tais descrições podem ser empregadas em um planejamento que por sua vez pode promover o progresso e o aperfeiçoamento social. O currículo é algo que pode ser elaborado através de um processo bem planejado com etapas e procedimentos passíveis de serem seguidos através das indicações prescritas nos livros que os pesquisadores escrevem. O segundo momento vai dos anos setenta aos anos noventa e marca a reconceptualização do campo e o predomínio de uma teoria crítica de currículo. Aqui, a tendência instrumental anterior é rejeitada e “despreza-se o propósito dos autores tradicionais de oferecer diretrizes para os que trabalham na escola”. Antônio Flávio identifica duas novas tendências surgidas neste momento. Uma de cunho mais humanista, cujo nome mais conhecido é o de William Pinar, e uma outra mais política, cujos principais representantes são Michael Apple e Henry Giroux. Em ambas as tendências, o enfoque dos pesquisadores parece afastar-se do processo de elaboração e desenvolvimento dos currículos para centrar-se mais no interesse em compreender o currículo. Em Pinar, o autor identifica que o propósito não é guiar os que estão envolvidos na prática pedagógica, mas ressalta que mesmo opondo-se ao caráter técnico e rígido do discurso tradicional, acabava caindo numa certa postura ingênua e ao mesmo tempo autoritária. A análise da produção de Apple evidencia, para Antônio Flávio, “uma postura com nuances autoritárias, que sugere ao leitor caminhar, como o teórico o fez, de uma romântica compreensão do currículo para um maduro combate em prol de justiça social”. Já a análise da produção teórica de Henri Giroux leva o autor a se perguntar se “não será possível escrever para o professor de forma menos autoritária, sem tantas certezas?” Finalmente, o terceiro momento analisado por Antônio Flávio contempla o período dos anos noventa em diante. O autor dá conta de um certo declínio de prestígio da teorização crítica ao mesmo tempo em que ocorre uma expansão do campo em direção a novas tendências curriculares. Para finalizar, o autor aborda algumas das tensões e discordâncias que podem ser identificadas naquilo que o especialista pretende oferecer aos professores. É nesse enquadramento que surgem relevantes questões tais como a do autoritarismo do pesquisador, a da combinação entre trabalho científico e compromisso político, a questão da busca de alternativas, a questão da linguagem, entre outras" E por fim diz a escritora da resenha: "A fim de concluir esta resenha, importa dizer que o livro procura responder a questões que muitos de nós nos colocamos quando fazemos pesquisa e escrevemos. Ao procurar responder a essas inquietantes perguntas, de maneira instigante e algumas vezes polêmica, os autores falam a partir dos diferentes lugares que ocupam e, muitas vezes, trazem mais perguntas do que respostas. Mas não será este um forte indicador de que o livro é realmente bom?" Isto tudo é pra sugerir a leitura do livro hehehehhe

Bethânia Medeiros Geremias
Coordenadora de Sala Informatizada

terça-feira, 2 de setembro de 2008